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Uma fragata no 25 de Abril para “repor a verdade”

Uma fragata no 25 de Abril para “repor a verdade” Durante anos circulou o rumor de que o comandante da fragata Gago Coutinho não tinha conseguido disparar contra as tropas de Salgueiro Maia porque a tripulação lhe tinha desobedecido. O livro de Noémia Louçã esclarece que não foi isso que sucedeu. 9 de Março, 2019 - 22:48h

A revolução de 25 de Abril de 1974 teria estado por um fio, à distância de um canhão. No Tejo estava uma fragata da marinha cujo comandante teria tentado bombardear o Terreiro do Paço onde estavam as tropas comandadas por Salgueiro Maia. Apenas a oposição dos marinheiros, nomeadamente a do imediato Caldeira dos Santos, teria feito abortar o banho de sangue que se adivinhava.

Só que a verdade é que António Seixas Louçã, comandante da fragata Gago Coutinho, nunca deu nenhuma ordem para disparar. É isso que reforça o livro “Uma fragata no 25 de Abril” de Noémia Louçã, publicado pela Parsifal, apoiado em vários documentos, como os inquéritos feitos a seguir à revolução e que “incluem depoimentos feitos e subscritos por intervenientes, designadamente os oficiais da fragata”.

Seixas Louçã, lê-se no livro, “opôs imediatamente objeções” à ordem que recebeu e retorquiu “alegando existirem cacilheiros no rio e muitos civis no Terreiro do Paço” pelo que “não cumpriu essa ordem”.

Como se criou então esse mito? Noémia Louçã, que é viúva do militar, pensa que ela foi “criada pela imaginação dum jornalista para causar sensação”.

Em defesa do comandante e não coerente com a versão de que teria querido disparar, para além dos documentos, apresenta-se também o seu passado antifascista. O almirante Ferraz de Carvalho em 1976 afirmava que “ele sempre se revelou inconformado com o tipo de regime conhecido por Estado Novo”, tendo revelado que contactou Seixas Louçã para tomar parte “num movimento para derrubar o regime” ainda em outubro de 1947 e que este se tinha prontificado, “correndo todos os riscos que lhe podiam advir da sua ação”. Também o depoimento do almirante Rosa Coutinho o considerava “era um democrata e republicano da velha guarda, nada afeto ao regime do Estado Novo e com excelentes relações com os democratas mais velhos”.

A autora do livro foi a primeira mulher a exercer advocacia em Moçambique e a primeira mulher a advogar no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, tendo ganhado uma causa contra o Estado português, em 1988.

A apresentação deste livro irá acontecer no dia 26 de março pelas 18.30 no auditório do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, Rua Fialho de Almeida, número 3, em Lisboa.

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