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Um caminho na vida de Mário Soares

Um caminho na vida

Lamento a morte física e mental de Mário Soares. Mário Soares foi um combatente pela liberdade e democracia contra o regime ditatorial e fascista de Salazar e Caetano, entre tantos outros.

Para mim o papel fundamental da vida de Mário Soares foi a sua luta pela liberdade e pela democracia, o que foi muito. Não sou, nem quero ser politicamente correto, porque não sou hipócrita. A minha luta de ontem e de hoje foi e é por uma sociedade de justiça social, sem exploração do homem pelo homem, por uma sociedade de pão e rosas. Essa sociedade só é possível com a superação do capitalismo, do liberalismo económico e com o primado do controlo público dos sectores da banca, finança, seguros, energia, transportes, industria, agricultura etc.

Mário Soares lutou pela liberdade e pela democracia, mas o seu papel no Portugal democrático foi sempre no sentido da hegemonia do capital sobre as forças do trabalho. Acabado o Verão Quente de 75, tão cheio de luz e esperança para uma sociedade onde “o povo é quem mais ordena”, eis que chega um Outono cinzento e cheio de nuvens negras anunciando a tempestade de 25 Novembro e com ela o Sonho Lindo Acabou. Mário Soares liderou politicamente o 25 de novembro juntando os cacos dos donos disto tudo em Portugal, e refizeram os grupos económicos e financeiros. O que o povo nas ruas, nas empresas, nos campos e nos quarteis juntaram, Mário Soares e a ala conservadora dos militares, espalharam para os velhos barões e ajudaram ao surgimento de novos-ricos que, durante 40 anos, têm espoliado os bens públicos e sugado os frutos do trabalho dos milhões de Portugueses.

“Votei quase sempre contra ele mas, uma vez, votei por ele”. Não por ilusão mas porque na presidência Mário Soares poderia fazer o melhor que sempre fez, bater se pelas liberdades democráticas.

O caminho de Mário Soares sendo marcante não afrontou as forças da cobiça, do ódio e da ganância. Mais do que de liberdade, precisamos de humanidade. Mais do que ganância, na europa e no mundo, precisamos de compreensão e solidariedade. Mais do que fronteiras e muros, precisamos de acolhimento e humanidade. Mais do que desenvolvimento tecnológico, precisamos de afectos e amizade. Mário Soares meteu nos no caminho da Europa do aço e do carvão, ou, das ditas comunidades EE ou do euro. Caminho sem virtudes, em que alguns só pensam em si e são cruéis e empedernidos. Caminhos em que as nossas vidas são de violência, de miséria, de morte e tudo temos perdido.

Francisco Tomás

09/01/2017