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Ryanair cancela mais de 40 voos de e para Portugal em apenas cinco dias

Ryanair cancela mais de 40 voos de e para Portugal em apenas cinco dias Até ao momento, a empresa lowcost irlandesa só divulgou a lista dos voos cancelados até à próxima quarta-feira. Em Portugal, o aeroporto do Porto é o mais afetado. Deco alerta que passageiros têm direito a indemnizações até aos 400 euros. 18 de Setembro, 2017 - 18:29h

Na sexta-feira, a Ryanair anunciou o cancelamento de dois mil voos, entre 40 a 50 voos por dia, até finais de outubro, o que poderá traduzir-se, de acordo com o Dinheiro Vivo, na retirada do mercado de 302 mil a 378 mil lugares. A empresa low cost irlandesa justifica o procedimento alegando que necessita de "melhorar a sua pontualidade", cujos índices baixaram dos 90% para os 80% em setembro.

Se bem que a empresa refira que os maus resultados em termos de pontualidade decorram de greves, atrasos na gestão de tráfego e mau tempo, o administrador responsável pelo marketing, Kenny Jacobs, citado pelo Financial Times (FT), revela as dificuldades na gestão da tripulação, face ao mau planeamento da escala de pilotos: "Fizemos asneira no planeamento das férias dos pilotos e estamos a trabalhar para o corrigir”.

A situação é agravada pelo facto de a autoridade irlandesa de aviação ter deliberado que a Ryanair tem de implementar o sistema de contabilização de horas de voo adoptado pelos restantes membros da União Europeia. Segundo as regras europeias, um piloto pode voar somente 900 horas por ano e 100 horas por mês. Na Irlanda, esta contabilização tinha início no mês de abril de cada ano, ao contrário do que acontecia noutros estados-membros, que iniciavam essa contagem no primeiro mês do ano. Neste contexto, muitos pilotos ao serviço da empresa atingiram durante o Verão ou em setembro o limite anual de horas estipulado.

O FT assinala ainda que, de acordo com o sindicato irlandês dos pilotos, a Ryanair está a registar uma "hemorragia" de pilotos para outras empresas. Este cenário é, no entanto, negado pelo CEO da Ryanair, Michael O'Leary.

Aeroporto do Porto é o mais afetado

O cancelamento de voos da Ryanair já levou a que, pelo menos, 43 voos de e para Portugal tenham sido cancelados desde sábado até à próxima quarta-feira.

Segundo as listas publicadas no site da companhia aérea low cost irlandesa, o aeroporto Sá Carneiro, no Porto, com 30 voos cancelados, é o mais afetado. Já o aeroporto de Faro conta com sete voos cancelamentos e o aeroporto de Lisboa com dez cancelamentos, quatro dos quais referentes a ligações Lisboa-Porto.

No site da Ryanair (link is external), é possível consultar a lista completa de voos cancelados, bem como solicitar o reembolso ou proceder à alteração do voo.

Voos cancelados de e para Portugal. Lista reproduzida pelo Negócios.
Deco alerta passageiros para direito a indemnizações até aos 400 euros

Muitos dos passageiros só estão a ser avisados do cancelamento do voo na véspera, o que tem aprofundado a contestação face à decisão da empresa.

Fonte oficial da Ryanair já garantiu que “todas as pessoas que têm o voo cancelado estão a ser colocadas no voo seguinte para o mesmo destino, ou é-lhes oferecida a possibilidade de um reembolso total". A empresa esclareceu que os pedidos de reembolso serão processados em sete dias úteis, sendo que a devolução será efetuada pela mesma via usada aquando do ato da reserva.

Paulo Fonseca, jurista da Deco - Associação de Defesa dos Direitos do Consumidor acusa, contudo, a Ryanair de esconder dos passageiros de voos cancelados o seu direito a assistência e à indemnização, que varia entre os 250 e os 60 euros consoante os quilómetros percorridos, embora para voos europeus o valor máximo seja 400 euros.

"Os passageiros podem ou solicitar o reembolso do bilhete, ou ir no voo logo que possível, mas tem sempre direito à assistência (refeições, bebidas, chamada telefónica, alojamento) e à indemnização", frisou o jurista, lembrando que as regras são aplicadas a todas as empresas que voam no espaço comunitário. A exceções a estas regras só contemplam situações imprevisíveis para as transportadoras aéreas, como um furacão, guerra ou ato de terrorismo.

"Já não abrange como exceção situações que decorram da gestão do negócio da própria empresa e a Ryanair, em comunicado, justificou o cancelamento com o excesso de voos de verão, a necessidade de descanso do pessoal, e ainda o reajustamento dos atrasos prolongados dos últimos dias. Isto são justificações que em nada interessam ao consumidor, em termos de indemnização a que tem direito, e denotam a má conduta da companhia", pontuou Paulo Fonseca.

A Deco condena o cancelamento "voluntário" de voos pela lowcost irlandesa, e denuncia que os cancelamentos não estão a ser comunicados aos passageiros com a antecedência legalmente prevista, de sete dias.

Paulo Fonseca fez ainda referência à publicidade lançada em Portugal há sete dias pela Ryanair, intitulada "escapadinhas de outono", que anunciava 200 destinos a um preço de 14,99 euros.

"Como pode uma empresa anunciar 200 destinos se ao mesmo tempo vai cancelar centenas de voos invocando a necessidade de descanso do pessoal de bordo pelos voos a mais que têm sido efectuados", questionou.

A Deco informa ainda que vai contactar a ANAC - Autoridade Nacional da Aviação Civil “para saber que procedimentos estão a ser abertos pela violação clara dos direitos dos passageiros" e lembra que, para os passageiros receberem a indemnização, devem fazer uma reclamação junto da companhia.

Entre abril e junho de 2017, a Ryanair arrecadou lucros de 397 milhões de euros, mais 55% do que no período homólogo. As receitas da empresa irlandesa subiram 13% para 1.687 milhões de euros no mesmo período.

Comissão Europeia exorta Ryanair a respeitar direitos dos passageiros

"Graças à União Europeia, todos os passageiros cujos voos foram anulados têm um conjunto de direitos no direito europeu", afirmou esta segunda-feira Violetta Bulc, comissária com o pelouro dos Transportes.

"Isso inclui o direito ao reembolso, ao reencaminhamento ou a um voo de regresso, bem como o direito a assistência e em determinadas circunstâncias o direito a indemnização", referiu Bulc em comunicado.

"Estamos em contacto com a Ryanair e esperamos que respeitem plenamente esses direitos", avançou a comissária europeia, frisando que "as autoridades nacionais são responsáveis pela sua aplicação".