
"Crescimento ainda não chega para compensar a destruição dos anos da troika" Catarina Martins defendeu em Setúbal a necessidade de “tributar riqueza a quem não tem pago a sua parte”. E lembrou que está na hora de cumprir o acordo que o PS fez com o anterior governo para subir a taxa da derrama em troca da baixa do IRC. 20 de Maio, 2017 - 12:32h
Na sessão do fórum autárquico organizado pelo Bloco em Setúbal, Catarina Martins referiu-se aos mais recentes números do crescimento económico, sublinhando que “não pode haver nenhum deslumbramento com indicadores” e que “só se continuarmos a olhar para os problemas muito concretos da vida das pessoas é que podemos ter um crescimento económico sustentável”.
“O crescimento económico ainda não chega para compensar a destruição dos anos da troika e só foi possível porque houve uma alteração da política para combater o empobrecimento. Mas ainda estamos longe de um crescimento económico que as pessoas sintam” no seu bolso, prosseguiu.
“Nos tempos da troika, 3600 milhões de euros foram retirados aos trabalhadores e o capital ganhou mais 2700 milhões de euros. O que houve foi uma gigantesca transferência de riqueza de quem trabalha para o capital e para fora do país”, apontou Catarina, concluindo que a prioridade do Bloco de Esquerda passa por “equilibrar o jogo, proteger salários e pensões por via direta e fiscal e ir tributar riqueza a quem não tem pago a sua parte”, a par do combate à precariedade e defesa dos serviços públicos.
Entre as medidas que já estão em marcha para fazer esse equilíbrio do jogo está o imposto sobre o património de luxo. “Chamavam-lhe o imposto Mortágua, diziam que o investimento ia fugir… Mas isso não aconteceu, era chantagem e mentira, como de costume”, recordou Catarina, antes de lembrar um compromisso que o anterior governo assumiu com o PS e que nunca foi cumprido, quando o PSD/CDS aumentaram o IRS e baixou o imposto sobre lucros das empresas. Esse acordo feito por Passos Coelho com o PS previa que a cada ponto percentual de descida do IRC corresponderia um aumento da derrama estadual paga pelas grandes empresas. “Mas baixaram a taxa do IRC em dois pontos e a taxa da derrama ficou na mesma”, prosseguiu, acusando Passos Coelho, agora na oposição, de ter ficado calado sobre o assunto.
“Abusar de uma mulher não é um excesso, é um crime”
No final do seu discurso, a coordenadora do Bloco referiu-se ainda às notícias de abusos sobre mulheres praticados no âmbito das festas académicas e ao silêncio por parte de quem organiza essas atividades.
“Passou uma semana e não ouvimos uma única voz das universidades ou da organização destas festas a dizer nada contra a cultura da violação e do abuso sobre mulheres. Vimos até jornais a escreverem no título que se tratava de excessos. Excessos é beber demais e ficar com dor de cabeça no dia seguinte. Abusar de uma mulher não é um excesso, é um crime”, afirmou Catarina, concluindo que “está ainda tudo por fazer” no caminho pela igualdade no nosso país.
“Não há favorzinhos nem simpatias no poder local”
A poucos meses das eleições autárquicas, a coordenadora do Bloco diz que o partido vei para estas eleições com o objetivo de “mudar a política também nas autarquias”.
“O papel da autarquia não é o do presidencialismo em que se confunde o que é estar ao serviço da comunidade ou ser-se dono da terra. Em todos os partidos temos visto vezes demais a ideia de que se pede um favorzinho ao presidente e que o presidente é simpático ou não simpático quando dá qualquer coisinha ao povo”, referiu Catarina, contrapondo que para o Bloco “não há favorzinhos nem simpatias no poder local, há direitos e obrigações como numa democracia por inteiro”.
“O Bloco será a voz mais exigente no combate pela transparência e contra o clientelismo”, prometeu Catarina, afirmando que “nós estamos nas eleições autárquicas para quebrar rotinas” instaladas há décadas em muitas freguesias e concelhos no país.